A queda

Minha bunda caiu. Do nada. De repente. Assim, sem avisar, sem nem uma preparação, uma conversa, uns tapinhas no ombro, um chororô. Fui dormir com ela redondinha, em pé da silva e alegre, acordei com ela esparramada, quadrada, alasanhada, triste. Em frente ao espelho, que até então eu achava que era amigo meu, assisti calada e estupefata ao bizarro espetáculo das duas bandas despencando rumo ao chão.Minha bunda caiu. E não, não é exagero. Não me venha com conselhos, dicas ou palavras doces, não me venha com aquele papo ridículo de “quem liga para bunda?” . Eu ligo para bunda! Meu namorado liga para bunda. Mulheres ligam para bunda (principalmente para a bunda alheia). O Brasil inteiro liga para bunda. Bunda é tudo nesse país de bundas! É só pensar na abundância de bundas famosas: Luma Bunda de Oliveira, Gerald Bunda Thomas, Waldomiro Bundão Diniz, Juliana Ô Bunda Famosa Paes...Minha bunda caiu. E, admito, não foi à toa. Eu não fui nada bacana com ela nos últimos anos. Comi de tudo, enchi a cara de refrigerantes, açúcar, massa, pão, salgadinhos, chocolate... tudo que engorda. E não fazia nada para gastar as calorias. Sedentarismo + comida = bunda caída. Não tem saída.Minha bunda caiu. E isso dói. Dói fundo, dói de verdade. Dói mais ainda olhar no espelho e ver que a tal da (miserável, mil vezes miserável!) lei da gravidade já começou a fazer efeito. E eu sou tão novinha! Que mundo injusto e cruel, meu Deus!!!!!Uma amiga costuma dizer: “depois dos 15, é só ladeira abaixo”. Outros amigos, mais otimistas, confortam-me alardeando os benefícios da malhação, da lipo, da força de vontade...Não que eu vá fazer alguma coisa para levantar a minha bunda, longe de mim. Caiu, caiu. Não vou chorar pelas nádegas derrubadas. O único exercício que me permito fazer é levantamento de talheres. E copos. E só.Minha bunda caiu. Mas meu humor não. Além do mais, o que vale é a beleza interior.Balela! Mentirona! Como dizem os Cassetas, quem gosta de beleza interior é decorador.

Desamor

Sempre fomos muito amigos.De todas as horas para dizer a verdade.Amizade forte,sincera,cheia de zelos e carinhos.Uma amizade facilmente confundida com paixão por aqueles que olhavam de fora.Mas eramos apenas bons amigos.Se um de nós precisava de algo,sabia à quem recorer.Amigos na alegria,na tristeza,na saúde e na doença,até que...
Descobri que o amava,não como amigo,irmão.E sim como um garoto,o garoto dos meus sonhos.Tantos anos ao seu lado, percebi que era ele quem eu queria para sempre.
E fiquei com medo.E se eu conta-se e ele me desse um 'toco',ou não resolve-se não ser mais meu amigo?Ou os dois?Isso para mim seria uma tortura e eu não queria e nem estava pronta para correr tal risco.Mas,e se este sentimento fosse correspondido?Eu tive receio.
Em uma certa festa que fomos juntos,ele virou para mim,na metade da festa dizendo que um conhecido estava 'à fim' de mim.Fiquei sem reação.O cara que eu mais amava,me falando isso.
Contei que não queria.Ele me perguntou o porquê.Falei que gostava de outro.Ele ficou curioso sobre quem era,fiz segredo e fui embora.Então comecei a fugir dele.Telefones não atendidos,encontros desmarcados,e-mails não respondidos.E em uma quarta-feira,me lembro bem,ele me vizitou e perguntou o quê estava ocorrendo.Não pude esconder.
-Eu amo você.
-Eu também te amo.Você é a melhor amiga do mundo!
-Estou falando não amor de amiga..e sim amor de mulher.
-Não estou entendendo...
Ele não conseguia ver,era dificil para mim tê-lo ao meu lado,sempre escutando ele falar de outras garotas,de possiveis namorados para mim..ele não entendia que aquilo me machucava,era uma faca afiada riscando meu corpo todo.
-Me perdoe,não posso corresponder dessa forma..te vejo como minha irmã,minha melhor amiga.
-Entendo. -o que eu tanto temia aconteceu,mas meu coração gritava..POR QUE???O que tenho de errado?-.
-Sei o que você está pensando,me perdoe.Eu amo você,e não quero perder sua amizade,nunca!
-Nem eu..
-Um dia,você irá encontrar alguém que te ame e te fará muito feliz.Desculpe por não ser este alguém.Então ainda amigos como antes?
E o tempo passou,eu fingia que tudo havia voltado como antes.Uma mentira.Cruel mentira.
Então certa noite,ele falou que necessitava me contar algo,e lá fui eu,a boba.No caminho fantasiei o que seria,muitas ilusões,sonhos..
-Adivinha?
-Ah!Fala logo,não me deixa curiosa.
-A Ana topou ficar comigo!Não é maravilhoso?
-Jura!?Que legal!
Nossa,como aquilo me doeu.Uma ferida funda,e por dentro eu gritei,gritei muito.Ele estava tão radiante,tão feliz...Eu o amava,mas acima da necessidade de tê-lo para mim,queria a sua felicidade...mesmo que,para minha infelicidade, com outra garota.
O quê os olhos não veem,o coração não sente..então lacrei os meus.(Dandara Castro)

“Os olhos já não podem ver coisas que só o coração pode entender. Fundamental é mesmo o amor. É impossível ser feliz sozinho.” (Vinicius de Moraes)

Perdida

Mesmo fingindo que não por muito tempo, ela percebeu que realmente o amava,e confessou.Ele ao escutar tal verdade preparou-se para falar algo,mas ela tampou-lhe os lábios.Não queria ouvir uma mentira,sabia que ele não a amava e,também não queria ouvir uma promessa que possivelmente não seria realizada.Ela já se sentia agraciada apenas por ele saber daquele sentimento.

Tudo ia bem,quando uma névoa sinistra pairou sobre eles.Ele se transformou do romântico para o distante.O relacionamento esfriou.Ela esperou e lutou por uma melhora,pois o amava.O barco já estava afundando,destruído por um iceberg colocado por outra.Não havia como remendar o estrago.Ela aguentou firme os primeiros momentos do naufrágio mas,quando ele chegou ao fundo,ela chorou.Chorou sozinha,escondida no escuro de sua masmorra.Era o fim de um grande amor?Onde foram parar as promessas de uma futura dança juntos?Pro fundo do mar.Então ela saiu de seu castelo e percebeu que aquele conto de fadas amalucado não teria um final feliz,mas que o mar e as florestas estavam ali para que ela explora-se e quem sabe encontra-se ali a estrada dos tijolos amarelos...

(Dandara Castro)

De vermelho

Sempre diziam a ela que vermelho não era uma cor para uma mocinha,que ela devia se vestir de rosa, amarelo..cores alegres.Mas ela não gostava.Preferia sempre vestir cores escuras,ou neutras,mas sempre com um toque vermelho.Aquela era sua cor,sempre em pequenas porções.Aquele era seu jeito,seu estilo.

Com um toque vermelho ela se revelava, mostrava quem realmente era,o que pensava.De vermelho ela não fingia.

Mas um dia,ela percebeu que não poderia em todo lugar usar sua cor e mostrar sua mente.Então marcou-se com agulha.Uma marca de identidade e liberdade.Uma maneira de sempre sentir o vermelho com ela e assim,poder mostrar-se na real.

Na nuca agora dormia uma rosa,vermelha como sangue e,como tal,também existia duas gotas.

O significado?Até hoje ninguém descobriu.

O mistério é o que da gosto as historias da vida.
(Dandara Castro)

[Homenagem ao blog abandonado : devermelho.]

Imprevisto esperado

Durante anos ela se perguntara porque ele nunca jogou nem um charme pra cima dela.Será que a considerava apenas uma irmã?Devia.Mas a culpa não poderia cair só sobre ele,ela também não era fácil.Era moleca,fria e bruta,sem deixar o lado engraçado morrer.Durante anos ela escutava 'calada' sobre as façanhas amorosas dele.Um perfeito mulherengo, sedutor, safado e sem vergonha.Mas ela não ficava sozinha,teve casos,namorados e muitas baladas.
Tão diferentes e tão parecidos.
Tantas chances de se conhecerem pessoalmente despressadas.Ela ocupada com o seu mundinho. Ele com o trabalho e suas mulheres.
Quem diria?
Quem diria que um dia tudo conspiraria pra algo acontecer?Nada é por acaso.Eles nunca tinham se tocado,se abraçado.Mundo atual é igual ao virtual.Tudo virtual.Se eles não tivessem passado pelo período amizade tosca,teria sido bem diferente.Pelas duas personalidades,pelas duas historias...
Tudo de repente pareceu se encaixar originando um encontro.Doce encontro.Talvez ele nunca sonhe o quanto ela pensou e planejou tudo. Planejamento que foi por agua a baixo com todos os acontecimentos.
A vida as vezes necessita de improviso.
E foi no meio da noite que aconteceu o primeiro beijo.Tão esperado, tão sonhado, tão único. O coração deles batia forte onde só as estrelas presenciavam.Forte também era a cumplicidade.Era como se eles já tivessem se beijado a anos.O beijo sincronizava-se perfeitamente.
As piadas, as historias, as lembranças...era como se eles vivessem juntos há muitos anos.Não como velhos casados amargurados que deixaram a rotina tomar conta mas,sim como eternos enamorados onde cada dia é uma nova aventura,cada abraço e beijo uma experiência nova e cada sorriso um paraíso.
Amor criado e cultivado pela amizade, admiração, carinho, companheirismo e muita bobagem não tem fim.
Não mesmo.